CASTELO DE GUIMARÃES (Parte 2)

Castelo de Guimarães

PARTE 2 – CONTINUAÇÃO

D. Afonso Henriques e o cerco

Em 1127, já armado cavaleiro, D. Afonso Henriques e o castelo de Guimarães sofreram um grande e poderoso cerco por parte do rei de Castela, seu primo, Afonso VII. Este, queria lembrar a Afonso Henriques que era seu rei, e que por isso lhe devia vassalagem, ou dito de outra forma, que devia jurar-lhe fidelidade.
Nenhuma das partes pretende ceder. É Egas Moniz quem resolve o impasse. O Aio de D. Afonso Henriques dá a sua palavra de honra ao rei castelhano de que o infante lhe será fiel e este retira as suas tropas. Viria mais tarde a ter de pagar a promessa, pois Afonso Henriques nunca pretendeu ser vassalo do seu primo.

D. Afonso Henriques

D. Afonso Henriques (gravura da Colecção da Sociedade Martins Sarmento)

Reza a História que Egas Moniz se vestiu e à sua família com roupas geralmente usadas pelos condenados à morte. E terá sido assim, descalços e com cordas atadas ao pescoço que se apresentaram ao rei de Leão: «Senhor rei, Egas Moniz nunca faltou à sua palavra. Não pude cumprir o que prometi. Dou-vos como resgate a minha vida e a vida inocente dos meus.».

O rei comovido com tamanho gesto de lealdade e coragem perdoou a Egas Moniz e mandou-o em paz dizendo: «Será grande o príncipe que tal mestre teve.»

Este episódio está gravado no seu túmulo de pedra, no Mosteiro de Paço de Sousa.

Egas Moniz

Ilustração de Roque Gameiro (Quadros da História de Portugal, edição de 1917)

A Batalha de S. Mamede

No dia 24 de junho de 1128, D. Afonso Henriques e sua mãe, D. Teresa de Leão (que, entretanto, se unira a Fernão Peres de Trava, herdeiro da mais poderosa casa do reino da Galiza) confrontam os seus exércitos e lutam entre si. Esta batalha aconteceu no vizinho campo de S. Mamede.
Sai vitorioso o jovem Afonso Henriques, apoiado por um conjunto de ilustres portugueses da alta nobreza e abre-se o caminho para a criação de um reino independente: o Reino de Portugal.

Esta é a razão por que também chamaram ao Castelo de Guimarães, Castelo de S. Mamede ou Castelo da Fundação (do Reino).
Esta fase mostra-nos uma estrutura fortificada de construção semelhante ao que existe em muitos outros castelos portugueses: os muros são mais espessos e existe a capacidade de armazenar água. São desta época os castelos erguidos sobretudo, para resistir a longos cercos, assumindo assim uma postura de defesa passiva. É nesta altura que já se reconhece a sua forma atual, de escudo.

Batalha de S. Mamede

Batalha de São Mamede – A Primeira Tarde Portuguesa
(pintura de Acácio Lino, 1922, Lisboa, Assembleia da República)

Reinados de D. Afonso III e D. Dinis

Estes reinados – D. Afonso III (1248-1279) e D. Dinis (1279-1325) – foram de profundas reformas ao nível da arquitetura castelar portuguesa. O Castelo de Guimarães ficou mais alto, mais robusto, mais completo: as muralhas foram alteadas, foram construídos mais dois torreões junto à Porta de Entrada, mais outros dois junto à Porta de Saída, mais quatro Torres e a Torre de Menagem. Nesta fase passam a ter uma atitude de “defesa-ativa”. Os castelos estão cada vez mais associados à arte de atacar, que usa máquinas de guerra, e como tal pensados e preparados para resistir a assédios e a permitir, também, o “contra-ataque”.

Batalha de S. Mamede

Aclamação de D. Afonso Henriques (gravura da Colecção da Sociedade Martins Sarmento)

Cercos durante o séc. XIV

Este século é marcado por vários cercos ao Castelo de Guimarães:
– Cerco de 1322 – quando o Alcaide do Castelo defendeu lealmente os interesses de D. Dinis durante a revolta do seu filho e herdeiro, D. Afonso, futuro D. Afonso IV.
– Cerco de 1369 – no reinado de D. Fernando I (1367-1383), pelo rei Henrique II de Castela que invadiu Portugal pelo Minho e já havia conquistado Braga, e que saiu derrotado.
– Cerco de 1385 – aquando da crise de sucessão de 1383-1385, tendo o seu alcaide, tomado o partido de D. Beatriz de Portugal, a vila foi novamente cercada, agora pelas forças leais a João I de Portugal (1385-1433), que a conquistaram.

Paço do Alcaide (Séc. XV e Séc. XVI)

Com a evolução das táticas militares e novos recursos bélicos usados nos conflitos armados, os castelos iniciaram a perda da sua importância na defesa do Reino e passaram a desempenhar outras funções. No Caso de Guimarães, foi construída uma zona residencial numa das paredes da muralha do castelo: o Paço do Alcaide. Importa referir que o Alcaide era o representante do Rei e era, quem tinha a função e obrigação de fazer cumprir tudo o que o rei havia decidido ou decretado. Eram pessoas importantes no Reino e habitualmente provinham da nobreza.

Castelo de Guimarães

O Castelo de Guimarães, in Arquivo Pitoresco, vol. VI, 1863, Lisboa, 1863

Fase da decadência (séc. XVI a XIX)

Ainda no século XVI, foi aqui instalada a cadeia da cidade. No século seguinte, o recinto acumulou as funções de palheiro real e as de pedreira.
O século XIX foi, sem dúvida, o mais desastroso período para o monumento. O estado de ruína do Castelo aumentava cada dia e em 1836, um dos membros da Sociedade Patriótica Vimaranense (associação criada para promover os interesses progressistas locais) defendeu a demolição do Castelo e a utilização da sua pedra para ladrilhar as ruas de Guimarães, já que a fortaleza tinha sido usada como prisão política no tempo de D. Miguel. Tal proposta, felizmente, nunca foi aceite. 45 anos depois (em 1881, por decreto real de D. Luis), classificava-se o Castelo de Guimarães como o único monumento histórico de primeira classe em todo o Minho, iniciando-se assim a retoma da sua importância.

Castelo de Guimarães

Restauração do Castelo de Guimarães (Séc. XX)

Com a intervenção de grande envergadura levada a cabo pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) entre os anos de 1936 e1940, a que se juntaram outras de menor impacto, nas décadas seguintes, o Castelo de Guimarães recupera o seu valor simbólico.
Reabre ao público (em 1940) aquando da Comemoração do VIII Centenário da Fundação da Nacionalidade.
Foi eleito em 2007, uma das Sete Maravilhas de Portugal.

castelo de Guimarães

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