Localização – Distrito: Lisboa; Concelho: Lisboa
Status: Classificado desde 1910, como Monumento Nacional
Tempo de existência do Castelo
Séc. VI a.C. a Séc.VII - As primeiras ocupações
A primitiva presença humana na área remonta à Idade do Ferro.
As pesquisas arqueológicas realizadas documentam a sua ocupação, sucessivamente, por Fenícios, Gregos e Cartaginenses.
Esta urbe foi depois ocupada pelos Romanos no período da conquista da Hispânia pelas legiões romanas. Datará do ano 48 A.C., a construção da primeira fortificação, em que foi concedida a Olisipo (denominação de Lisboa na época) a categoria de município romano, o que permitia aos seus habitantes puderem tornar-se cidadãos romanos.
Posteriormente, com as invasões dos povos bárbaros, às quais a Hispânia não escapou, a cidade foi conquistada pelos Suevos nos meados do século V, e, poucos anos mais tarde, pelos Visigodos.
Séc. VIII a XI - A fundação do castelo
No século VIII, viria a cair sob o domínio muçulmano, passando a denominar-se Al-Ushbuna ou Lissabona.
As descrições dos seus geógrafos referem a existência da fortificação com as suas muralhas, as quais defendiam a “quasabah” (alcáçova), o centro do poder político e militar da cidade.
Datará presumivelmente do Séc. X a construção muçulmana do castelo e muralhas, bem como da Cerca Moura.
Essa fortificação constituía o último reduto de defesa para as elites que viviam na cidadela: o alcaide mouro, cujo palácio ficava nas proximidades, e as elites da administração da cidade, cujas casas são ainda hoje visíveis no Sítio Arqueológico do Castelo.
O Castelo Medieval
O castelo de S. Jorge ergue-se em posição estratégica e dominante sobre a mais alta colina do centro histórico da atual cidade de Lisboa, proporcionando a quem nele se encontra uma das mais abrangentes vistas sobre a cidade e o estuário do rio Tejo.
Séc. XII - A conquista do castelo
No contexto da Reconquista cristã da Península Ibérica, após a conquista de Santarém, as forças de D. Afonso Henriques (1112-1185) – com o auxílio de cruzados normandos, flamengos, alemães e ingleses que se dirigiam à Terra Santa – investiram contra esta fortificação muçulmana.
A conquista ficou célebre nos anais da história pela morosidade do cerco (mais de três duros meses), tendo o castelo capitulado em 1147, como é narrado no manuscrito “De expugnatione Lyxbonensi”, carta escrita por um cruzado inglês que tomou parte na conquista.
Vista de Lisboa e Rio Tejo no século XVI – Navios à vela Caravela e Carraca na era descobrimentos portugueses.
Ao fundo o Castelo de S. Jorge. (“Civitates orbis terrarum”, Franz Hogenberg & Georg Braun, 1572)
A lenda, que com o tempo surgiu em torno da conquista de Lisboa, enaltece em particular, a proeza de um nobre cavaleiro de D. Afonso Henriques, Martim Moniz.
Este, percebendo que uma das portas do castelo se encontrava entreaberta, flanqueou-a, sacrificando a própria vida ao interpor o próprio corpo no vão, impedindo o seu encerramento pelos mouros e permitindo o acesso e a vitória dos companheiros.
Poucas décadas mais tarde, entre 1179 e 1183, o castelo resistiu com sucesso às forças muçulmanas que assolaram a região entre Lisboa e Santarém.
Séc. XIII a XVI – como Residência Real e Arquivo Real
Com a elevação de Lisboa a capital do Reino em 1255, D. Afonso III (1248-1279) ordena (em 1265) a realização de obras de reparação no palácio e casa de habitação do governador.
Castelo de São Jorge – “O cerco de Lisboa”
(aguarela de Alfredo Roque Gameiro, in “Quadros da História de Portugal”, 1917)
Em resultado dessa intervenção, os antigos edifícios fortificados de época islâmica foram adaptados e ampliados para acolher o Rei, a Corte, o Bispo.
Transformado em Paço Real pelos reis de Portugal no século XIII, o Castelo de S. Jorge foi o local escolhido para se receberem personagens ilustres nacionais e estrangeiras, para se realizarem festas e aclamarem-se Reis ao longo dos séculos XIV, XV e XVI.
No ano de 1373 iniciou-se a construção da muralha de D. Fernando (1367-1383), concluída dois anos mais tarde. Em 1382, no contexto da 3.ª Guerra Fernandina, os arredores da cidade foram novamente alvo das investidas castelhanas (tal como sucedera em 1373).
No decurso da crise de 1383-1385, Lisboa seria duramente assediada pelas forças de D. João I de Castela em 1384.
Escriba europeu a trabalhar (Jean Miélot, 1454-7)
A Torre do Tombo
É ainda no reinado de D. Fernando I que será instalado no Castelo de S. Jorge, o Arquivo Real.
Tendo o Arquivo sido instalado desde a sua génese, entre 1378 e 1755 numa torre do Castelo de São Jorge, chamada de “Torre do Tombo”, acabou por ser adotada esta denominação.
Assim, a Torre do Tombo (uma das instituições mais antigas de Portugal) era o local onde se guardavam os volumes e os papéis mais importantes do Reino, da administração do Reino, dos seus vassalos, das possessões ultramarinas e das relações de Portugal com outros reinos.
O nome do Castelo
Como gratidão e testemunho pela sua resistência em batalhas passadas, D. João I (1385-1433), colocou o Castelo sob a proteção de mártir São Jorge, santo padroeiro dos Cruzados, passando este a ser assim designado.
Os terramotos que afetaram a cidade em 1290, 1344 e em 1356 causaram danos importantes no Castelo.
Vasco da Gama apresenta a D. Manuel as primícias da Índia
(Biblioteca Nacional de Portugal, c.1900, autor desconhecido)
A vida de Corte e o último Rei no castelo
Nas funções de Paço Real, foi palco da recepção a Vasco da Gama, após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, no final do século XV, e da estreia, no século XVI, do “Monólogo do Vaqueiro”, de Gil Vicente, primeira peça de teatro português, comemorativa do nascimento de D. João III (1521-1557).
Séc. XVI a XIX – O terramoto de 1755, a Guerra da Restauração
Juntamente com a cidade, o castelo voltou a sofrer com os terramotos de 1531, 1551, 1597 e 1699.
A sua história como Paço Real encerrou-se com a mudança do mesmo, ainda no século XVI para o Paço da Ribeira.
À época da Dinastia Filipina foi novamente guarnecido, adquire um caráter funcional mais militar, com a instalação de aquartelamentos e foi ainda utilizado como prisão.
Planta atual do Castelo de São Jorge (EGEAC, Lisboa)
Estes fatores e o terramoto de 1755 contribuíram para o declínio e a degradação do monumento.
Foi sede da Casa Pia entre 1780 e 1807, altura em que foi utilizado, no período das Invasões Napoleónicas, como Quartel-General por Jean-Andoche Junot.
No século XIX, toda a área do monumento nacional está ocupada por quartéis. Desse modo, descaracterizado e, em parte, interditado aos lisboetas, chegou ao século XX.
Séc. XX e XXI - O Castelo, Monumento Nacional
Tendo chegado ao Séc. XX em bastante mau estado, com as grandes obras de restauro de 1938-40, levadas a cabo pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), redescobre-se o castelo e os vestígios do antigo Paço Real.
No meio das demolições então levadas a cabo, as antigas construções são resgatadas, levantando-se grande parte dos muros e alteando-se muitas das torres.
Já no final do séc. XX, as investigações arqueológicas promovidas em várias zonas contribuíram, de forma singular, para constatar a antiguidade da ocupação no topo da colina e confirmar o inestimável valor histórico que fundamentou a classificação do Castelo de S. Jorge como Monumento Nacional, por Decreto Régio de 1910.
Novas intervenções foram realizadas no final da década de 1990, reforçando a reabilitação e as acessibilidades ao monumento, a que se juntaram novas intervenções já do início do Séc. XXI (2000 e 2009).
Com mais de dois milhões de visitantes em 2018, o Castelo de S. Jorge foi o monumento nacional mais visitado nesse ano, posição que manteve igualmente em 2019.
Tendo readquirido a imponência de outrora, o Castelo de S. Jorge é assim devolvido ao usufruto dos cidadãos, justificando a sua visita um dia destes!…
Links:
EGEAC, Castelo de São Jorge
Sistema de Informação para o Património Arquitectónico
Direcção Geral do Património Cultural – Castelo de São Jorge
Património Islâmico em Portugal (Universidade Lusófona)
Museum with no Frontiers – Islamic Art
National Geographic Portugal – Grande Reportagem Castelo S. Jorge
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